Entraram na sala, estupefatos com o que acabava de ocorrer. Não havia mais nada a ser feito, a não ser tentar sorrir depois de tanta desgraça. Edilene (a nora) tentava acudir e acalmar Rodolfo (o filho), mas nada seria como antes a partir de que... bem, vocês sabem.
- Astolfo, como é que chegamos aqui?
- ...
- Digo, nesse fim de mundo, nesse túnel após a luz, nesse barco furado, nesse chove-não-molha, nessa água-que-passarinho-não-bebe, nessa...
- CHEGA!
- (emoticon triste com lágrimas)
- Foi assim que chegamos assim! Não consigo aturar tanto clichê, tanto lugar comum, tanta carne de vaca, tanto mimimi para qualquer frase!!! Foram 62 (sessenta e dois) anos! Cansei.
- Mas... mas... mas...
- Grunft
- Mas por que não me disse isso antes? Não seja tolo! Já somos velhos demais para recomeçar.
- Você é velha demais para qualquer coisa! (IIIIIIIIIIIIIIII!!! Vai deixa? Vai deixa???)
- Não acredito que você ousa falar assim de mim... e para mim!!!
- Pois acredite! Eu quero divórcio! - e saiu batendo o pé, vitorioso.
Adelaide fingiu desmaio, mas abriu os olhos alguns segundos depois. Astolfo não estava lá. Não chamou os paramédicos, não mostrou arrependimento. Andava com passos firmes, estufava o peito. Tossia um pouco também, 84 anos não é para qualquer um. "Libertas Quae Sera Tamen", anunciava o mineiro Astolfo. Adelaide, por sua vez, percebeu que só havia uma coisa a fazer: chorar compulsivamente até que as lágrimas de todo o mundo se acabassem.
Astolfo, que não era velho demais, sacou seu I-pod de 80 giga e entupiu os ouvidos com a melhor da Bossa Nova (também não era novo demais ao ponto de curtir um pop), e pensava maliciosamente "que la lloren!", parafraseando o anão Maradona.
As lágrimas se acabaram. A tristeza e angústia saíram de cena. Após 85 anos de vida, nunca havia experimentado tamanha vontade de carne. Humana. Adelaide já não era mais apenas uma senhora com seus lugares comuns. Era um monstro obsessivo-compulsivo: o objetivo? Astolfo.
Caminhou com passos firmes até o marido. A serenidade de Astolfo ouvindo aquele..aquele.. "badulaque de meia pataca" - nome científico do Ipod, segundo Adelaide - era um afronte insuportável.
- É hoje que a vaca tosse, meu velho!
- ..... (balançando a cabeça ao som de João Gilberto).
- ASTOOOOOOOOOOOOOOLFO!!!!! (emoticon com sangue nos olhos)
- *plopt* Hein?
- Me dê um bom motivo para não te matar agora! - ameaçava Adelaide, enquanto afiava uma faquinha de rocambole.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Adelaide atacou logo a jugular de Astolfo com aquela pequena faca plástica. Astolfo não conseguia parar de rir. Riu tanto, mas tanto... que perdeu o ar. Morreu. De rir.
Quando a polícia chegou, encontraram Adelaide olhando para o vazio, tentando desesperadamente cortar sua própria jugular com aquela faquinha. Inutilemente, é claro. Pois não tinha a menor graça. Rodolfo chorava.
- Astolfo, como é que chegamos aqui?
- ...
- Digo, nesse fim de mundo, nesse túnel após a luz, nesse barco furado, nesse chove-não-molha, nessa água-que-passarinho-não-bebe, nessa...
- CHEGA!
- (emoticon triste com lágrimas)
- Foi assim que chegamos assim! Não consigo aturar tanto clichê, tanto lugar comum, tanta carne de vaca, tanto mimimi para qualquer frase!!! Foram 62 (sessenta e dois) anos! Cansei.
- Mas... mas... mas...
- Grunft
- Mas por que não me disse isso antes? Não seja tolo! Já somos velhos demais para recomeçar.
- Você é velha demais para qualquer coisa! (IIIIIIIIIIIIIIII!!! Vai deixa? Vai deixa???)
- Não acredito que você ousa falar assim de mim... e para mim!!!
- Pois acredite! Eu quero divórcio! - e saiu batendo o pé, vitorioso.
Adelaide fingiu desmaio, mas abriu os olhos alguns segundos depois. Astolfo não estava lá. Não chamou os paramédicos, não mostrou arrependimento. Andava com passos firmes, estufava o peito. Tossia um pouco também, 84 anos não é para qualquer um. "Libertas Quae Sera Tamen", anunciava o mineiro Astolfo. Adelaide, por sua vez, percebeu que só havia uma coisa a fazer: chorar compulsivamente até que as lágrimas de todo o mundo se acabassem.
Astolfo, que não era velho demais, sacou seu I-pod de 80 giga e entupiu os ouvidos com a melhor da Bossa Nova (também não era novo demais ao ponto de curtir um pop), e pensava maliciosamente "que la lloren!", parafraseando o anão Maradona.
As lágrimas se acabaram. A tristeza e angústia saíram de cena. Após 85 anos de vida, nunca havia experimentado tamanha vontade de carne. Humana. Adelaide já não era mais apenas uma senhora com seus lugares comuns. Era um monstro obsessivo-compulsivo: o objetivo? Astolfo.
Caminhou com passos firmes até o marido. A serenidade de Astolfo ouvindo aquele..aquele.. "badulaque de meia pataca" - nome científico do Ipod, segundo Adelaide - era um afronte insuportável.
- É hoje que a vaca tosse, meu velho!
- ..... (balançando a cabeça ao som de João Gilberto).
- ASTOOOOOOOOOOOOOOLFO!!!!! (emoticon com sangue nos olhos)
- *plopt* Hein?
- Me dê um bom motivo para não te matar agora! - ameaçava Adelaide, enquanto afiava uma faquinha de rocambole.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Adelaide atacou logo a jugular de Astolfo com aquela pequena faca plástica. Astolfo não conseguia parar de rir. Riu tanto, mas tanto... que perdeu o ar. Morreu. De rir.
Quando a polícia chegou, encontraram Adelaide olhando para o vazio, tentando desesperadamente cortar sua própria jugular com aquela faquinha. Inutilemente, é claro. Pois não tinha a menor graça. Rodolfo chorava.
11 comentários:
Quem diabos são Edilene, Rodolfo e Ostolfo?
Hum... presumo que tenha sacado na hora quem é a Adelaide, ne?
Só pode ser uma pessoa. Daí fica mais fácil...
Hum... faquinha de rocambole na jugular? Interessante...
O que você vê nesta mancha?
{
Morcegos?
De qual espécie?
Flamejantes? (Flaming Bats)
Ufa.
Meu queriiiiiiiiiiiiido !
Abrax
Tão amadinhos...
Tão perturbadinhos...!
Oi??
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